domingo, 2 de novembro de 2008

O sagrado e o profano



O que consideramos, em nossos dias, divino e profano?
Para Rita Lee, “o amor é divino”. Então, o desamor é profano!
O trabalho é divino. E a preguiça é profana.
A ira é profana e a calma é divina.
A luz é divina e a escuridão é profana.
A alegria é divina e a tristeza é profana.

Poderíamos “elencar” uma série de profanos e divinos no nosso cotidiano,vai depender da nossa perspectiva de análise, da nossa cultura ou daquilo que consideramos profano e divino no momento.

O dicionário nos coloca que profano é “algo não pertencente à religião,”não sagrado”, “secular”;por outro lado, divino é algo “concernente às coisas divinas,à religião,aos ritos ou ao culto”,”inviolável” ou “santo”.

Segundo Vanderley Dorneles, entre os povos antigos, a vida religiosa não contemplava essa distinção. Sagrado e profano eram categorias inexistentes. A religião era o centro da vida e todas as demais coisas eram naturalmente relacionadas a ela. O plantio da terra, a procriação e a diversão eram expressões religiosas, na medida em que se tornavam oferendas aos deuses.

Os rituais misturavam atos sexuais, orgia e danças, como no festival de Dionísio, divindade greco-romana. A dança sempre foi um acessório cultual, entre os índios, nas religiões afro, no antigo Egito e em inúmeros cultos antigos. Mircea Eliade, historiador das religiões, afirma que a dança e a música de tambores eram parte indispensável dos cultos antigos.

Dessa forma, a união das duas polaridades era natural, considerando que os deuses daquele mundo eram evoluídos ou espíritos guerreiros e portanto apreciavam também as coisas humanas.

A distinção

Para Dorneles, as religiões que seguem a revelação bíblica - judaísmo e cristianismo - criaram a distinção entre sagrado e profano, ao introduzir a idéia do pecado e o conceito da santidade de Deus. O profano e o sagrado não têm espaço na religião destituída da idéia do pecado. As religiões antigas e as espiritualistas de hoje não têm para essas categorias um conceito claro, exatamente porque não estabelecem a realidade do pecado e da redenção.

E para nós, o que realmente é profano e divino?Como podemos distingui-los?
Profano é tudo aquilo que violenta, que avilta, que macula.

Poderíamos dizer que profano é a fome, a miséria, a guerra,o analfabetismo,o uso de drogas, o aborto,a nudez,a violência de modo geral.
E o divino? É o sacramentado, inviolável, é aquilo que faz bem à coletividade, de acordo com os ditames da divindade. Ele é representado pelo amor, família,abundância, esclarecimento,paz e VIDA.

O profano representa o caos diante da ordem estabelecida, Ele desarmoniza,contesta, chama atenção.

O profano está intimamente ligado ao conceito de “pecado”,herança das religiões.Seria,então o “tocável”, “apropriável” , visível e o divino o “intocável”, o “intangível”. Nesta concepção,normalmente formulamos indagações existenciais:Isto é permitido? Lidamos com o medo de sermos punidos pela divindade. Esquecemos,muitas vezes, que somos profanos pelo pensamento e por nossas ações egoístas.

Edite Malaquias

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